O Fado da Cuíca - Pt4

Capítulo IV

Bárbara, nunca é tarde...

Acertei o preço das aulas por telefone. No primeiro encontro fui arrebatado por um olhar que tentou buscar na memória algum rosto recente. Reparei que em cima da mesa jazia brilhante e bem conservada uma caneca do Benfica e o pôster dos Campeões da Europa de 62 pendurado na parede.  Fiquei impressionado como naquela casa tudo remetia aos Encarnados, à República e ao Fado.  As guitarras portuguesas, os cravos, as recordações de Eusébio, tudo naquele lugar cheirava a alecrim. Passei algum tempo fingindo ser aluno de História Portuguesa, mas, na verdade eu me apaixonava por um pedacinho daquela terra em um apartamento de 62 m² no centro de Lisboa, e por sua dona, que me encantava e tinha um olhar renitente em cruzar o meu por isso vivia vidrado nos livros e nos textos. Depois de meses de aula já me sentia português, torcedor do Benfica, e muito mais próximo de Bárbara. Era figura costumeira no Estádio da Luz. Vi o time Supercampeão com 14 títulos em 18 anos, vi a república portuguesa ser tida como a salvação do país e vi o Fado crescer como identificação cultural dos lusos. Em uma das últimas aulas do ano, eu já não suportava mais Afonso Henriques, pedros, migueis, marias. Num arroubo lhe disse “Bárbara, tenho que confessar-te algo!” ela esbugalhou seus olhos verdes “Fala, Fran! Estás a me matar de medo”. Fechei os olhos e fui uma hemorragia de confissões, quando eu os abri, Bárbara era a maior mulher do mundo, não existia mais nada naquele apartamento, só ela. Sua boca era tão grande naquele momento que ela exercia uma gravidade que a minha não resistiu, nem podia.

O Insanoscópio

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