Refazenda

Alguma coisa tem que ser feita quando as crianças saem de férias. Por diversos motivos. Elas precisam ir aos parques, pro cinema, gastar energia com futebol e patins, pular corda, brincar de elástico, pisa-pé, agredir umas as outras, dormir tarde, acordar cedo, não dormir e fazer todas as outras coisas que você fazia quando era uma.

Algo bem típico dessa temporada também é ir pra fazenda. Crianças deixam seus pais e os apartamentos da cidade e vão pra um ambiente muito diferente da realidade urbana. Pode haver sim uma resistência inicial pra ir a um lugar tão diferente, os clássicos filmes da Sessão da tarde comprovam isso, mas, diante de tanto espaço e de um mundo de coisas diferentes, é impossível uma criança "autêntica" ficar quieta.

O dia reserva inimagináveis aventuras. São animais pra cuidar e montar, são gangorras debaixo de antiquíssimas árvores, são incontáveis goiabas pra comer (e roubar) com primos e amigos, são passarinhos pra estilingar, são riachos gelados, estradas de barro, campos pra correr de bicicleta, amanhecer, entardecer e milhares de outras coisas que algumas pessoas só viveram assistindo Sítio do Picapau Amarelo. Isso é felicidade.

Mas chega um momento em que bate o cansaço e é preciso se abrigar em uma casa. Lá fora tudo é escuridão, tudo é mistério. Dentro de casa, todo folclore da imaginação apavora. Cada barulho, cada sombra na janela provoca medo. As árvores no escuro são assustadoras, carregam bichos, monstros e fantasmas. O barulho do vento nas folhas assusta, o barulho dos bichos assusta, tudo é sombrio. À noite, as crianças são reféns das trevas.

Interessante como, a depender do momento, uma mesma coisa pode ser fonte de prazeres exaustivos ou de medos angustiantes. Mas é preciso viver. A noite passa e  a manhã já traz outras surpresas. Crianças podem até temer a noite a ponto de permanecer eternamente em seu conforto, mas só as que se arriscam, mesmo tendo medo também, podem desfrutar de toda excitação de um dia na fazenda.

Jehiel Casaes 

AVISO

Em virtude de alguns fatos desagradáveis, promovidos por pessoas desagradáveis maravilhosas eu decidi, sem consultar os demais autores, tomar algumas medidas com relação ao Insanoscópio.

Primeiramente, para quem não conseguiu entender, a proposta do blog não é ofender ninguém, nem de mostrar o quanto nós somos superiores (até porque isso NÃO é verdade).

"O blog não tem estilo literário definido, nem assuntos limitados. Vamos falar de tudo e de nada; do velho e do novo; do engraçado e do sério. Ainda assim, vocês vão perceber o estilo de cada escritor de forma muito clara. Lê quem quer ler. Divulga quem curte e acompanha a gente. Se somente nossos amigos acessarem, estaremos no lucro."
Texto retirado da descrição do Insanoscópio, um lugar extremamente difícil de ser localizado e de leitura infinitamente complicada.

Mas esse não é o centro da questão. Acontece que há algum tempo pessoas (sim, mais de uma) têm se utilizado do anonimato permitido pelo blog pra manifestar suas opiniões (vocês poderão acompanhar tudo nos textos antigos). Até aí, "nada" de errado.

O lance é que uma dessas pessoas começou a direcionar acusações que ela não tem o mínimo de fundamento para faze-las. A começar pela falta de coragem de vir até os autores e conversar a respeito (nada mais justo, concordam?). Não entrarei em detalhes. Esse ainda não é o foco desse post.


A partir de hoje (29/11/2010, segunda-feira) não iremos permitir comentários de "Anônimo". Apenas o direito de tréplica do último post será aceito.


Qualquer outro comentário seja elogiando, denegrindo, falando baboseira, inteligente, tapado, engraçado, ofensivo, compassivo, egoísta, altruísta SERÁ DELETADO. E esta decisão nem meus amigos escritores serão capazes (não por falta de capacidade, mas porque entendo que eles compartilharão da mesma ideia que eu) de me convencer do contrário. Se discordarem, whatever.

Então é isso. Quem quer que seja o "Anônimo" fará seu último comentário pra responder o que foi dito por Jehiel e por mim. Se não responder ao assunto em questão o comentário será deletado.


Sem mais,


Kiko Pereira

Será que...


Com os últimos acontecimentos que pairam neste blog percebo o quanto ainda se faz latente esse incomodo com a apatia masculina. É verdade que o ser anônimo pode não ser nem uma mulher, seja apenas alguém curtindo a ideia de ter algum tipo de ibope na vida, ainda que anônimo. Mas vou aproveitar esse ensejo.

Há muito ouço e participo de discussões indignadas em rodas feministas em relação à postura masculina, e por vezes me vi enfurecida por acreditar que eles, jovens garotos que despertam certo interesse em algumas nós, não eram "capazes" de tomar uma atitude.

Isso é tão comum que já parei pra pensar sobre o assunto algumas vezes e já tive a oportunidade de ouvir diversas vertentes com opiniões enriquecedoras de ambos os sexos. É muito provável que não haja uma aceitação das leitoras, algumas irão se identificar e por isso sua revolta aumente, ou talvez discordem completamente.

O caso é: será mesmo que eles não têm coragem o suficiente para falar com você?

Nós, mulheres, criamos tantas "teorias" quando nos interessamos por alguém, que hoje posso identificar uma série de estágios pelo qual passamos, estágios esses que ainda variam para tipos e tipo de mulheres. Tentarei aqui relacionar alguns deles:

1. Ao se interessar...

Agimos como tolas e fazemos de tudo para não sermos "desvendadas". O problema é que ninguém ensinou como fazer isso, então fazemos o oposto, escrevemos na testa e apesar de já imaginar que todo mundo já notou, continuamos piorando a situação. Então, eis que surge aprimeira teoria: "Se eu o ignorar, ele nunca vai perceber". Eu sinceramente não sei quem foi que disse que isso funcionava... primeiro porque dificilmente você vai ignorar alguém que gosta e segundo que se ele estiver afim pode estar pondo em risco uma relação futura.

2. Para saber se ele também se interessa...

Continuamos agindo como tolas e antes mesmo de termos certeza, todo mundo já tem. É a teoria de que falar pra uma ou duas amigas, que falaram pra mais duas e assim por diante... Vai chegar aos ouvidos do “alvo”, assim, só pra saber se há um interesse da outra parte também. É, certamente chegará, mas sabe como é telefone sem fio né?! (Essa teoria é bem mais na fase teen).

3. Eleé tão gentil que...

É obvio que ele quer agradar! Fala sério meninas! Hoje eu estou começando a achar que os meninos têm deixado de ser cortês em alguns momentos, porque talvez seja uma forma de defesa. [Claro que isso não justifica a falta de cavalheirismo, ou pelo menos educação de alguns. Porque se todos eles fossem sempre assim, por natureza, e com todas, nós não nos espantaríamos quando um agisse gentilmente].

4. Ah, esse tipo de brincadeira...

Com certeza quer dizer alguma coisa... Por quê? Eu realmente não entendo porque um cara brinca ele tem que ter algum interesse em você, talvez ele seja só “brincalhão”.

3. Ah, então ele deve ser...

Cego, tímido, lerdo e por fim, covarde!

o queremos acreditar na possibilidade de ele não estar afim de nós.

E por isso criamos teorias, ideias e desculpas. Independente de quem seja o “anônimo” fica um alerta para as meninas e deixo bem claro que não estou defendendo eles por completo, só aproveitei a oportunidade e por isso eu agradeço a deixa que você me deu para falar de algo muito discutido e pelo ibope que você tem nos dado, afinal ninguém sabe quem é o anônimo, mas todos sabem como chegar ao Insanoscópio.

Where's Wally??


Eu respeito os comentários que chegam ao blog. Acredito que meus amigos compartilham da mesma opinião que a minha. Uma das maiores perdas para o Insanoscópio no atentado, cujo impacto mudou nossa vida, foi, sem sombra de dúvida, os comentários dos leitores assíduos.

Se eu fosse seguir conselhos de alguns eu nem estaria escrevendo esse texto. Mas quero dar a César o que é de César. Algo curioso me chamou a atenção nos últimos posts (ainda que eu tenha me privado de comentar sobre os textos) foi a presença de um novo leitor. Estou falando de Anônimo.

Recheando os textos com seus comentários, este ser demonstrou uma capacidade gigantesca de amar e odiar. Tamanha oscilação de humor poderá ser vista por vocês no decorrer do texto. Sei que podem ser diferentes pessoas, mas vou partir do pressuposto que seja à mesma (ainda que sejam várias pessoas por trás do mesmo nome, existem características comuns entre os comentários).

Tudo me leva a crer (com base nos elogios escritos) que nosso ser oculto é uma mulher. Ok... pode ser um homem utilizando a ferramenta da omissão para se divertir. Vamos analisar as duas possibilidades.

Se for um quase homem eu só consigo pensar na seguinte pergunta: Por que você, homem corajoso, não coloca seu nome? Questiona a “ineficácia” dos escritores quanto ao saldo positivo no campo amoroso / afetivo e não tem sequer a coragem de dizer seu nome. Honrável a sua postura. Eu estranho que você, que deve ser um grande garanhão, tenha tanto tempo de sobra pra vir comentar no blog. Gaste seu tempo com sua (s) mulher (es). É mais louvável estar dando atenção à sua namorada, se é que ela existe.

Caso o nosso “Arauto da Escuridão” seja uma mulher (e as razões para eu pensar que seja uma são bem convincentes)... a coisa está feia pra seu lado, né? Ter que se sujeitar a tal papel pra se fazer notável é porque, como se diz aqui na Bahia, “o bicho ta pegando”, hein? Não me resta nada a não ser pensar que você é um brócolis ressecado, um alface murcho, ou um molho de coentro despedaçado. A sua condição de solteira te afeta tanto que na sua mente essas são as mais eficazes formas de chamar atenção. Parabéns, você conseguiu. Só quero te dar alguns alertas: 1) você vai ficar solteira; 2) você vai ser mais feia que o normal; 3) não estamos nem aí pra você.

A covardia permeia muito mais a sua vida do que a nossa. Todo tema abordado aqui foi, em qualquer grau, experimentado pelos autores. Realmente pela Internet tudo fica fácil de ser dito. É por isso que você tem a oportunidade de se esconder. Estamos a seu dispor para uma franca conversa tète-à-tète, caso você julgue necessário.


Histórico de comentários (agora com comentário!!!) Fiz questão de manter a escrita original ainda que tenha ferido as normas gramaticais de escrita.

Com carinho,

Anônimo... quer dizer... Kiko Pereira



16/11/2010

06:41 - “Me apaixonei pela sua letra!Ass: Sua eterna admiradora” - Temos aqui a mais pura demonstração de carinho, aguardando uma resposta do escritor.

12:25 - “Como eu queria ser esse papel, para você repousar essas suas mãos em mim...” – Mais uma tentativa, sendo mais explícita com relação ao que sente (observem que o desespero é visível pelo “curto” espaço de tempo entre um comentário e outro).

18/11/2010


05:54 - “Vocês são românticos lindos e escrevem bem, não sei como é que ainda estão solteiros.” – Impressionada com o grau de romantismo dos blogueiros demonstra com palavras o quão injusto é o estado de solteiro. Foi uma espécie de “Meninas, fiquem atentas!!!”

09:39 - “Realmente os últimos post foram bem melancólicos, APESAR DE hoje ser bem raro encontrar garotos com essa sensibilidade e percepção da realidade, de tal forma que essa característica singular muito embeleza os textos [e talvez a pessoa, não sei, não conheço] de vocês. Parabéns, meninos.” – Mais uma tentativa de aproximação.

19/11/2010

09:04 - “Vcs escrevem muito bem. Parecem estarem apaixonados hem...rsrs” – Aqui fiquei na dúvida se foi a mesma pessoa... fugiu do padrão dos comentários.

10:34 - “Interessante é ver que nas palavras mandam tão bem, porém quando precisam tomar alguma atitude comem mosca. O que falta em vocês é ousadia, não no sentido pejorativo, mas no sentido de ter coragem de arriscar.” – Aqui já é possível enxergar a indignação e desespero da nossa “Princesa da Noite”. Ao contrário de nós, ela teve ousadia o suficiente pra se prestar a esse papel.

21/11/2010

18:03 - “Gérsica Bagano,não penso assim.Não confunda romantismo com covardia de chegar em uma menina.É como dizem,falar,qualquer um fala,ainda mais na Internet com tantos recursos a serem utilizados. Pq na prática ainda estão solteiros?Quem conhece sabe das meninas que eles desejam, e pq eles não têm a coragem de chegar até elas e falar todas essas coisas?Sejam homens por completo e não só pra escrever na Internet.” – Após a tentativa de defesa por parte de uma menina, Anônimo fica indignado (a) e entra com tudo!!!

Aversão ou A versão


"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu."
Eclesiastes 3.1

Os vídeos abaixo são diferentes versões de uma mesma música. Vale a pena assistir pelo menos a de Djavan.














A música Palco é composição de Gilberto Gil e foi lançada no álbum Luar, de 1981. Esse é um grande sucesso de Gil que foi regravado por outros intérpretes. Dois deles foram Djavan e Jorge Vercilo.

A mesma música, várias versões. Dá pra gostar de uma e não gostar das outras, dá pra gostar de todas ou de nenhuma. Depende de muita coisa. Depende muito do momento. Existe a possibilide de alguém não curtir nem um pouco o trabalho de Jorge Vercilo e ouvir palco pela primeira vez na voz dele. Há também a possibilidade de conhecer essa música ouvindo Gil, gostar muito e acabarbar achando interessante as outras versões. Pode haver também a possibilidade de, ouvindo a de Djavan, alguém achar que é impossível fazer melhor. Existem inúmeras possibilidades. 

Acredito que todas essas possibilidades estão relacionadas à maneira que se conhece a música. Uma boa impressão pode abrir espaço para conhecer novas versões, e as más impressões podem comprometer irreversivelmente o que se acha a respeito dela. Ou não.

Vejo muito isso nos meus amigos e nos que não são meus amigos. Conheci os primeiros no momento exato, no "tempo" exato. Eles, assim como todo mundo, têm várias versões,  várias estações. Às vezes gosto delas, às vezes critico-as, mas sempre conheço elas.  Talvez, se tivesse conhecido eles em outro momento, não seriam meus amigos. Os que não são  têm suas virtudes também, mas eu não conheço, ou não quero conhecer.Talvez eu tenha conhecido eles num momento pouco atraente, numa circunstância em que não era possível eu me interessar por suas variadas versões. Mas acredito que esses ainda podem me surpreender bastante. Talvez esse ainda não seja o tempo determinado para esse propósito.

Jehiel Casaes

Benjamim pela primeira vez

Sempre quando ele olha algo parecido com ela, enlouquece, seu coração dispara, seus olhos saltam como se rebelassem contra o dono e tivessem domínio das suas ações. Tudo para ele faz com que a dor da sua falta- que nem tem muita razão de ser, até porque falta só se faz com a presença-  assuma posição feudal e irrevogável, e sua disritmia, seja serva contente .

Mas ela é perfeita...

Sua perna esquerda levemente flexionada para fora, como uma menina envergonhada contando uma traquinagem ao pai, seus olhos tem gosto de chocolate meio-amargo.  A constituição do nariz com a boca é impecável. Os dois não são perfeitos, nem belamente desenhados, mas combinam inexoravelmente um com o outro.

Pobre rapaz, tem todas as cores do mundo roubadas por um vestido rosa, toda graça do mundo resumida em um sorriso aparelhado, e toda sua felicidade apagada por um “tchau” que nem sequer foi pra ele...

Cartas


Não desse jeito

Eu não sei como é que as pessoas continuam comprando essas revistas com fofocas e resumos de novelas, parece que não sabem o quanto aquilo está encharcado de mentiras. Elas são um sucesso, nunca saem das bancas e das prateleiras de mercado. As mentiras e as revistas. Não sei, parece que há algum tipo de emoção em descobrir o que é profeticamente correto. É uma loteria literária, sabe?

Essa imprensa passa todo tipo de informação, mas a gente nunca sabe se aquele ator realmente usa drogas; se aquele outro terminou o casamento porque foi traído; se fulaninha realmente fez aquela lipo; se nessa semana o assassino-vilão-master vai ser pego na novela das oito e coisas parecidas. Mas de uma coisa podemos pode ter certeza, elas não são confiáveis. A gente pode até comprar uma um dia, ler cuidadosamente, depois colocar  o cachorro pra fazer o trabalho sujo nela e, enfim, vendo as novelas, descobrir que foi pura perda de tempo consumir aquilo ali. Mas mesmo assim é difícil ficar decepcionado.

É, sabemos que são previsivelmente decepcionantes, portanto, já vamos nos preparando pro que der e vier. "Acertou, Caras? Beleza! Outra furada, Tititi? Aaah, eu já sabia!" . Uma coisa mais ou menos assim acontece quando verdadeiros amigos erram conosco. Já conhecemos suas fraquezas, suas limitações, seus defeitos e, quando as coisas vão desalinhando, é mais fácil entender os motivos dos vacilos. Assim, é mais fácil perdoar e saber que aquilo pode acontecer outra vez, mas é possível aprender a lidar e conviver com isso. Acaba não sendo uma grande decepção, mas uma natural falha humanamente aceitável. Ou não.

Complicado é decepcionar a si mesmo quando acreditamos que uma pessoa é o que acreditamos que ela seja, quando, na verdade não é. Ela não precisa necessariamente ser falsa ou dissimulada, basta que sejam alguém diferente do que , no íntimo, imaginávamos que fosse . Dessa maneira, repito, é decepcionar a si mesmo. O que é muito mais cruel.


Ou não.
 


 Jehiel Casaes

Noite de Santo Antônio

[...]tinha sido uma noite muito estranha, como todas as outras naquela semana. As horas passavam apinhadas de incertezas, sorrisos, proibições e concessões . Mas depois de muita palestra diplomática, lá estavam os dois. Os lábios dela - o inferior e o superior- discutiam entre eles sobre a melhor arrumação. Os lábios dele simplesmente formigavam, como se braços estendidos estivessem prestes a brotar deles. As bocas eram tão soberanas que no momento não existia mais palpitação, olhos e respiração, só o amor que eles acolhiam no espaço molecular do beijo [...]

Quarta-feira verde do Extra

Quero deixar claro que o post contém trechos que podem ofender algumas mulheres e render certas retaliações para mim. Mas entendam que o exemplo que dei foi baseado na minha conversa. A visão exposta aqui pode servir pra vocês mulheres!!!

Num bate-papo casual com uma amiga (casada e preocupada com minha solteirisse) no MSN, me deparei com o seguinte diálogo:

[Amiga]: Quiquinho, como você está?

[Kiko]: Oi [não vou divulgar o nome da pessoa]!!! Tudo bem, sim! E você?

[Amiga]: To bem!!! Conte-me, o coração como está?

[Kiko]: Muito bem, por sinal. Ta até me pedindo uma “coraçoa”! Heuhehuehue!!!

A conversa vai seguindo seu rumo e de repente ela me diz:

[Amiga]: Vocês homens complicam demais (...) Mas vocês ainda estão na vantagem...

[Kiko]: Como assim estamos em vantagem?

[Amiga]: A oferta pra vocês é muito maior. As coisas ficam mais fáceis.

[Kiko]: A oferta é grande, mas é que nem a “Quarta-feira Verde” do Extra. Na propaganda a fartura e a qualidade são supervalorizadas. Na hora H só a fartura permanece... a qualidade é difícil de ser encontrada.

A conversa termina com muita risada e comentários sobre o assunto.

O lance todo desta situação está no fato das pessoas sempre tentarem ajudar quem está sem namorada (o) a qualquer custo. Uma atitude louvável quando se avalia na esfera da amizade, mas algumas peculiaridades fazem esta atitude perder sua eficácia:

1- Geralmente, quem tenta arrumar alguém para “preencher” o espaço no coração de alguém já tem o seu preenchido. Nunca vi um solteiro se matando pra achar alguém pra o amigo ou amiga, a não ser que este seja um caso perdido. Com isso, o amigo que tenta promover perde o conhecimento da vida ímpar.

2- Essa pessoa não enxerga a pessoa indicada como alguém que aquela encararia, caso estivesse na condição de solteira. É um fato.

3- Por viverem as maravilhas da vida a dois nossos amigos perdem a noção do que promove a aproximação de duas pessoas: a identificação inicial, o coração acelerando, frio na barriga, a vontade de estar sempre perto. Enfim, os principais elementos catalisadores de um romance que, em tese, será eterno. Nós, chamados de amantes à moda antiga, somos taxados como complicados, exigentes demais, apáticos e algumas vezes de coisas piores.

Deixo aqui meu alerta aos pragmáticos. Não troquem a essência dos sentimentos, nem o prazer de senti-los pela simples necessidade de ter. Valorizem a etapa inicial de um romance. Ali é que são estabelecidas as bases do relacionamento.



Kiko Pereira

"...Seu All Star azul"


Acho que o All Star foi a melhor coisa que já coloquei nos pés um dia. Não comecei a usá-lo quando criancinha, na verdade, eu já era adolescente quando comprei o meu primeiro. Azul, cadarços brancos, cano curto, tamanho 42 eu acho. No começo, era fanatismo mesmo. Eu usava os meus em todo lugar, ficava horas vasculhando o site do fabricante, pesquisando a história do modelo, aprendendo a fazer diversas tranças e amarrações. Eu só falava em All Star. Minha família e parte dos meus amigos cansaram de mim por um tempo nessa época. Quando eu saía à rua, eu via todos os All Stars possíveis e os contava. Por cor. Descobri que todos os filmes que existem sobre a face da Terra têm alguém usando um par desses tênis. Grande parte dos meus amigos tinha um, era quase uma irmandade. Pra mim, todas as pessoas legais do mundo usavam All Star, todos os Vj’s da Mtv usam, todos os grandes astros do rock sempre usaram. Quem é que abre o clip “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana? Certa vez, depois de dez anos sem contato nenhum, reencontrei a primeira menina que gostei na vida. Foi na minha turma do 2°colegial, primeiro dia de aula. Uma das primeiras coisas que falei foi sobre o All Star vermelho que ela usava na primeira série. Ela ficou vermelha também. Ainda tenho um preto de cano alto que já foi todo riscado com refrões de rock do tipo: “nós não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir”. É, durante um bom e fútil tempo da minha adolescência eu acreditei que não precisaria calçar mais nada na vida. Aos 13 anos, tinha encontrado algo exato pra mim, algo que me deixava plenamente satisfeito. Nenhum outro calçado combinava tanto comigo e nem poderia ser tão bonito, versátil e agradável de usar.

Acho que os amores platônicos são muito assim também. Sei lá, parece que um dia se encontra a pessoa mais perfeita do mundo, milimetricamente feita pra você, mais cheia de defeitos suportavelmente adoráveis. Parece que os outros seres humanos são só seres humanos quando comparados a todo encanto sobrenatural que envolve a pessoa amada. Essa pessoa está em cada música, em cada livro, em cada esquina e em tudo que há de mais belo na vida. O mundo gira em torno desse alguém. “Eterno amor” e “razão do meu viver” são clichês de espécie básica. A característica mais marcante do amor platônico é a idealização do sentimento sendo correspondido e manifestado pelo outro, o que de fato não pode acontecer num amor platônico, pois ele é plenamente ideal, não pode se manifestar no mundo concreto. Sendo correspondido, ele perde sua essência. Mas o amor não precisa necessariamente ser correspondido para que seja legítimo. Precisa? Na verdade, o outro nem precisa saber da existência do amante. Ele se satisfaz só por estar amando. 

Sei que existem incontáveis modelos de tênis mais confortáveis, mais resistentes e mais úteis que o All Star. Hoje ele já não combina com todas as roupas que uso e preciso usar. Não tenho nem um pouco daquela obsessão juvenil materialista. Mas, sabe, eu ainda adoro esses tênis. Porque, por mais que eu passe um bom tempo sem usá-los; por mais que a “teenager obsession” já tenha ficado para trás; por mais chato que seja vê-los sendo desgastados em outros pés que não os meus; por mais que não continuem sendo os meus favoritos, eu sempre vou ter lembranças especiais e significativas quando encontrar um andando por aí. Ao amor platônico servem esses mesmos exemplos, porque, da mesma maneira, depois de um tempo as coisas quase sempre passam a ser analisadas com frieza racional. Acaba se descobrindo que aquela pessoa não era a mais bonita, a mais perfeita e muito menos o último ser humano do planeta. Esse amor platônico deixa de ser um conflito e passa a ser uma lembrança patética. Talvez até engraçada, mas sempre significativa. Porque algumas pessoas são únicas.

 Ou não.

Jehiel Casaes 

O Insanoscópio

O blog não tem estilo literário definido, nem assuntos limitados. Vamos falar de tudo e de nada; do velho e do novo; do engraçado e do sério. Ainda assim, vocês vão perceber o estilo de cada escritor de forma muito clara. Lê quem quer ler. Divulga quem curte e acompanha a gente. Se somente nossos amigos acessarem, estaremos no lucro.

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