Mas aí depois de outras mesas mais solitárias que a última e goles de cafés mais amargos, veio na minha cabeça que nenhuma revolução imitou o passado. A Revolução Francesa não teve precedentes históricos, a Revolta dos Cravos, em Portugal, levou o povo de volta ao poder depois da ditadura como nunca antes. Tudo que é reacionário um dia foi revolucionário e me vi como um revolucionário do passado, ou seja, um reacionário. Enquanto eu desejava demais viver em um tempo passado não conseguia perceber que o meu tempo passava, quis viver o que já foi escrito, quis lutar pelo que já foi vencido. Viver no passado talvez seja uma fuga do terror que é o futuro. Senti que o mundo com um monte de saudosistas como eu, seria um mundo miserável, sem olhar pra frente. Tudo que eu admirava era a vanguarda e eu era totalmente o contrário.
Paguei a conta do Café, atravessei o Rio Sena pela ponte Saint-Michel encarando face-a-face Notre-Dame. A visão da catedral me fez lembrar do corso sujo do Napoleão. O quanto ele se inspirou em Paoli pra criar um império no meio de uma revolução burguesa. A Bossa do Brésil conheceu o samba e o jazz pra fazer um tipo de som novo que mudou o rumo da música daquele país. E até rupturas mais violentas como o surrealismo de Dali precisava experimentar e se envolver com o passado pra rejeitá-lo. A vanguarda sem um pingo de inspiração no passado é morta e o saudosismo de costas para o futuro é inútil.
2 comentários:
Já escutei de várias pessoas e eu mesma já desejei diversas vezes ter nascido em outra época. Por causa das músicas, do cinema, da tv, do contexto histórico, tantos motivos que enchem os nossos olhos, que fazem a gente se arrepiar, se emocionar... Mas tudo isso, pra quem gosta, é como inspiração, nascemos no tempo em que nascemos, somos parte DESSA história, não dá pra ficar preso ao passado e esse texto é fantástico ao trazer essa reflexão nessa última frase: "A vanguarda sem um pingo de inspiração no passado é morta e o saudosismo de costas para o futuro é inútil.”.
Talvez nossos filhos desejem viver a nossa geração e assim por diante... marca do inconformismo, não vejo mal nisso, só não dá pra ficar fugindo e assumir a responsabilidade de mudança do futuro.
Adoreiii o texto Victor, faço das palavras da Amanda, as minhas palavras, tb sempre admirei os anos passados, e sempre desejei ter nascido num tempo como aquele, pelas músicas, pelo romantismo, cinema, tv, o modo de vida das pessoas, mas é verdade que não há mal em se desejar isso, mas não podemos esquecer de que o futuro pertence a nós escrevê-lo para as futuras gerações, e que se nos apegarmos àquilo que já passou, não conseguiremos escrever essa história. Parabéns pelo Blog galerinha^^
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