Refazenda

Alguma coisa tem que ser feita quando as crianças saem de férias. Por diversos motivos. Elas precisam ir aos parques, pro cinema, gastar energia com futebol e patins, pular corda, brincar de elástico, pisa-pé, agredir umas as outras, dormir tarde, acordar cedo, não dormir e fazer todas as outras coisas que você fazia quando era uma.

Algo bem típico dessa temporada também é ir pra fazenda. Crianças deixam seus pais e os apartamentos da cidade e vão pra um ambiente muito diferente da realidade urbana. Pode haver sim uma resistência inicial pra ir a um lugar tão diferente, os clássicos filmes da Sessão da tarde comprovam isso, mas, diante de tanto espaço e de um mundo de coisas diferentes, é impossível uma criança "autêntica" ficar quieta.

O dia reserva inimagináveis aventuras. São animais pra cuidar e montar, são gangorras debaixo de antiquíssimas árvores, são incontáveis goiabas pra comer (e roubar) com primos e amigos, são passarinhos pra estilingar, são riachos gelados, estradas de barro, campos pra correr de bicicleta, amanhecer, entardecer e milhares de outras coisas que algumas pessoas só viveram assistindo Sítio do Picapau Amarelo. Isso é felicidade.

Mas chega um momento em que bate o cansaço e é preciso se abrigar em uma casa. Lá fora tudo é escuridão, tudo é mistério. Dentro de casa, todo folclore da imaginação apavora. Cada barulho, cada sombra na janela provoca medo. As árvores no escuro são assustadoras, carregam bichos, monstros e fantasmas. O barulho do vento nas folhas assusta, o barulho dos bichos assusta, tudo é sombrio. À noite, as crianças são reféns das trevas.

Interessante como, a depender do momento, uma mesma coisa pode ser fonte de prazeres exaustivos ou de medos angustiantes. Mas é preciso viver. A noite passa e  a manhã já traz outras surpresas. Crianças podem até temer a noite a ponto de permanecer eternamente em seu conforto, mas só as que se arriscam, mesmo tendo medo também, podem desfrutar de toda excitação de um dia na fazenda.

Jehiel Casaes 

4 comentários:

Unknown 1 de dezembro de 2010 às 00:20  

Pô Jeh, férias não me fazem lembrar da fazenda, mas da ilha. Antes ia com pais, avós, tios e primos. E o tempo passa... Deixamos de andar tanto assim com nossos parentes e privilegiamos as amizades. Foi assim que descobri que não saber andar de bicicleta é algo normal e que resgatar um amigo à deriva num caiaque é uma experiência sem igual! Viva às férias!

Kiko Pereira 1 de dezembro de 2010 às 10:34  

Texto totalmente nostálgico. Lembro da última vez que senti o cheiro do café sendo passado num coador de pano. Tempo bom!!! Lembro também de como aprendi a comer feijão de mocotó: Meu avô acordava 4 horas da manhã e eu acordava no embalo e comíamos em plena madrugada. Ele dizia que era pra fortalecer e dar sustância e funcionou hehehehehe!!!

Desde guri que tenho um certo fascínio pelo ambiente rural. O fato de ter que se abster de tecnologias, do dia-a-dia da cidade me causava raiva no início. Nada que boas corridas pelo quintal não resolvessem.

Victor Dias 2 de dezembro de 2010 às 00:25  

auahauahuahauahauahua~~~~~~ Luan é ridículo
uahauahauhaua

Lidiane Ferreira 2 de dezembro de 2010 às 10:59  

Eita! Me lembrou o tempo em que eu subia nos pés de jambo alheios! rsrsrs

Nada do que o homem constrói se compara ao cheiro de terra em plena chuva, às ondas do mar que vêm e vão, à delícia de sentir a brisa.

"Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos." Salmos 19.1

P.S.: Eu já gostava dos gibis do Chico Bento! rs

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