Alguma coisa tem que ser feita quando as crianças saem de férias. Por diversos motivos. Elas precisam ir aos parques, pro cinema, gastar energia com futebol e patins, pular corda, brincar de elástico, pisa-pé, agredir umas as outras, dormir tarde, acordar cedo, não dormir e fazer todas as outras coisas que você fazia quando era uma.
Algo bem típico dessa temporada também é ir pra fazenda. Crianças deixam seus pais e os apartamentos da cidade e vão pra um ambiente muito diferente da realidade urbana. Pode haver sim uma resistência inicial pra ir a um lugar tão diferente, os clássicos filmes da Sessão da tarde comprovam isso, mas, diante de tanto espaço e de um mundo de coisas diferentes, é impossível uma criança "autêntica" ficar quieta.
O dia reserva inimagináveis aventuras. São animais pra cuidar e montar, são gangorras debaixo de antiquíssimas árvores, são incontáveis goiabas pra comer (e roubar) com primos e amigos, são passarinhos pra estilingar, são riachos gelados, estradas de barro, campos pra correr de bicicleta, amanhecer, entardecer e milhares de outras coisas que algumas pessoas só viveram assistindo Sítio do Picapau Amarelo. Isso é felicidade.
Mas chega um momento em que bate o cansaço e é preciso se abrigar em uma casa. Lá fora tudo é escuridão, tudo é mistério. Dentro de casa, todo folclore da imaginação apavora. Cada barulho, cada sombra na janela provoca medo. As árvores no escuro são assustadoras, carregam bichos, monstros e fantasmas. O barulho do vento nas folhas assusta, o barulho dos bichos assusta, tudo é sombrio. À noite, as crianças são reféns das trevas.
Interessante como, a depender do momento, uma mesma coisa pode ser fonte de prazeres exaustivos ou de medos angustiantes. Mas é preciso viver. A noite passa e a manhã já traz outras surpresas. Crianças podem até temer a noite a ponto de permanecer eternamente em seu conforto, mas só as que se arriscam, mesmo tendo medo também, podem desfrutar de toda excitação de um dia na fazenda.
Jehiel Casaes