Há dois anos , no mundo inteiro, estourou uma crise financeira. Fruto de uma bolha de especulação no ramo dos imóveis nos EUA. Os Americanos, por causa do crédito fácil, compravam o que não podiam pagar, superaquecendo o mercado sem a liquidez necessária. Nós brasileiros passamos com poucas sequelas por essa crise, mas sofremos com outra bolha. A autoestima.
Depois de 16 anos de desenvolvimento e exposição da boa imagem dos brasileiros, nosso país deixou de ser apenas do samba e do futebol. Passamos a vencer em outros esportes, sermos reconhecidos em outros tipos de arte, e começamos a exportar nossa cultura. Sentimos orgulho dos nossos grandes empresários, da nossa economia (temos o sétimo maior PIB). WOW! Somos membros do Conselho de Segurança da ONU. Isso tudo deixa o povo de nossas bandas cada vez mais feliz com seu estado. Nos sentimos pequenos Eikes agora.
Aí vem um filmezinho legal chamado Rio. Que mostra araras azuis americanas e um povo Brasileiro hospitaleiro, feliz, malandro e amante do samba, como nos velhos clássicos dos anos 50 (Orfeu Negro, os musicais de Carmem Miranda e etc.), quando o brasileiro só tinha isso pra mostrar. Aí vem a crise da autoestima: “Ah! Nós brasileiros temos muito mais pra mostrar do que malandragem e samba.“ Pois é, mas não é isso que vemos nesse vídeo:
Não vou ser chato o bastante pra dizer que isso não foi engraçado, mas o coitado do japa até hoje deve gritar “piru pequeno” quando vê Zico na TV. O brasileiro médio, apesar das mudanças econômicas, continua com a cabeça muito parecida com aquele dos Clássicos. Substituímos ou incrementamos algumas coisas. Trocamos o samba pela ”surra de bunda”. A malandragem continua a mesma coisa. Estacionamos em vagas de deficientes, furamos filas, enfim, saímos orgulhosos quando burlamos alguma regra impunemente. A mídia que idolatrava o lance de Nilton Santos na copa de 58 (quando ele comete a falta e dá dois passos pra fora da área pra dizer que não foi pênalti) parece ser a mesma que hoje repete esse lance em todo primeiro de abril como se fosse símbolo da esperteza do povo verde-e-amarelo.
A imagem política criada lá fora formou uma bolha de autoestima no brasileiro. Somos mais fortes, mais ricos, mais potentes, mas continuamos com a mesma cabeça do malandro Grande Otelo. Pobre, sambista, feliz e que usa a malandragem pra ter tudo aquilo que nós já conseguimos.
1 comentários:
gosto muito dos seus textos, Victor. Leio sempre e adoro. Sensato,leve,inteligente e belo. Sempre muito belo.
bjkas
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