Capítulo III
Tanto mar
Nessas turnês cresci, ganhei dinheiro, conheci muitos lugares. Mas o último lugar que visitei e me apaixonei foi Lisboa. Não passaríamos por lá, Portugal vivia numa crise da ditadura e as obras tinham sido censuradas. Fomos graças à Revolução dos Cravos em 25 de abril de 74. Fiquei maravilhado com a cidade e com a efervescência política depois do acontecido. Em 77, resolvi me estabelecer por lá, tinha juntado um bom dinheiro e não precisava me preocupar com trabalho por algum tempo. Vivia de bar em bar me envolvendo com um novo tipo de som, o Fado, este entrava na minha cabeça muito mais como poesia decassilábica sem ligar muito pro seu ritmo. Em um Café encontrei uma bela fadista portuguesa. Aquela Jovem de cabelos longos e negros, pele azeitadada de Algarves, olhos verdes e grandes carregados de gravidade, talvez pela alma da canção, não chamava muita atenção por ser um tipo comum vindo do sul da Península. Mas ela me lembrava uma moça que tinha visto em fotos sobre a Revolução dos Cravos que o Ruy Guerra vivia mostrando pra Chico Buarque. Resolvi perguntar ao balconista quem era a moça. Pouco sabia. Disse-me que o nome dela era Bárbara, era professora de História pelo dia e cantava Fado nas terças e quintas naquele café. Já era o suficiente para mim. Fui logo me apresentar a ela. Não sei de onde veio tanta coragem, talvez tenha vindo com a confiança que ganhei na turnê, ou de não se importar mais com a língua presa por já estar falando um outro português. Sei que Bárbara fez pouco caso de mim, não tinha muito o que me falar. Apenas agradeceu os elogios e respondeu minhas perguntas. Fiquei louco para aprender mais sobre o Fado e a poesia que se esconde atrás dele, até que um dia encontrei na parede de um edifício no Bairro da Mouraria um papel escrito “Reforço de História Portuguesa – Professora Bárbara Carvalho”. Não precisava saber de História Portuguesa, mas eu tinha que ver aqueles olhos verdes outra vez.
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