Capítulo II
É verde, é rosa!
Tinha dois grandes sonhos na minha vida, jogar pelo América e desfilar com a Mangueira. O primeiro foi desfeito por uma lesão no joelho em um dos testes. Tinha 16 anos e o América não acreditou na minha reabilitação. Chorei. Chorei até ter pena de mim mesmo. As palavras do treinador só pararam de doer quando eu recebi um convite de um tal de Agenor, amigo de meu pai, que me convidou pra tocar a velha Cuíca na verde e rosa. Desatei a estudar música, o vermelho do Mecão já não tomava grande parte do meu coração, mas dava lugar ao verde e rosa da Estação Primeira. Logo no meu primeiro carnaval em 61 fomos campeões com o enredo “Reminiscências do Rio antigo”, repetimos o feito em 67 e 68 quando eu mudei pra bateria da escola e também quando eu conheci a Cecília, a Porta-Bandeira. Era louco por ela, a ponto de brigar com o Moreirinha, o mestre-sala, sujeito que nunca me fez mal, por puro ciúme. Cecília era uma morena de pele macia, olhos negros e fundos, sorriso alvo e perfeito, mas o que mais espantava nela era seu jeito de andar. Seu desfile fazia o morro parar, como se todos esperassem por aquele momento. E tudo só voltava ao normal, quando sua graça se perdia no horizonte e ninguém mais a via. Sempre tive vergonha de falar com ela, talvez pela minha fala medonha, talvez pela minha timidez, talvez por ser só mais um baterista e ela ser A Porta-Bandeira. Passei a não ligar mais pra ela, vinha crescendo como baterista da escola e soube que o sobrinho do Jamelão tinha uma queda por ela, era “melhor não mexer com essa gente grande” sempre disse meu pai e eu consentia. Em 73 fomos campeões de novo, dessa vez a bateria foi destaque da Escola. Fui convidado pra ser percursionista de uma turnê com Chico Buarque com o objetivo de promover o CD e a peça “Calabar”.
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